É impressionante o efeito que a língua inglesa exerce sobre o Português. Conversando com o meu irmão, por acaso mencionei que havia encaminhado um e-mail, escrito em inglês, para uma outra pessoa. Nesse bate-papo o qual tive com ele, citei que eu me identificara para o receptor da mensagem com “aqui é o Daniel do Brasil”. De plano, meu irmão caiu na gargalhada e disse algo como: cara, a gente não fala assim em Português. E eu o perguntei: como assim? Ele, mais uma vez, disse: a gente não fala assim em Português. Na sequência, explicou. O que fiz foi exprimir o Inglês por meio do Português. Ou seja, involuntariamente, optei por uma tradução ao pé da letra de “this is Daniel from Brazil”. Dessa forma, o que ocorreu ali, segundo ele, foi que escolhi me expressar via estrutura da língua inglesa.
É super bizarro quando isso ocorre. Conquanto, devo dizer que não acontece apenas comigo. Outro dia mesmo, recebi uma mensagem no whatsapp em que a pessoa dizia: fala Daniel, Lucas Silva aqui. Ao ler aquele conteúdo, de imediato, lembrei-me do que o meu irmão me alertara há anos: cara, a gente não fala assim. É que, em inglês, é comum alguém se identificar com It’s Angelina from the dentist’s office here. No entanto, ressalto que esse não é um padrão genuíno da língua portuguesa.
Assim, no meu entendimento, falantes nativos do Português são tão fortemente influenciados pela língua inglesa que, não basta a população utilizar anglicismos no seu dia-a-dia como brainstorming, reunião de kick-off e fazer uma call. Nessa perspectiva, empregam, ainda que involuntariamente, a forma como as palavras são combinadas na língua inglesa. Se trata da sombra das collocations da língua inglesa dando nova roupagem a pseudo-collocations da língua portuguesa. Grosso modo, collocations são combinações de palavras que ocorrem com muita frequência. Portanto, se dizemos dar um tiro ou efetuar um disparo, dificilmente diríamos efetuar um tiro ou dar um disparo. Nos habituamos a combinar palavras de tal forma que, ao adotar combinações improváveis, elas soam deveras estranho aos nossos ouvidos.
O que ocorre, entretanto, é que a globalização tem tomado novos contornos e a influência da língua inglesa sobre a portuguesa parece acompanhar esse fenômeno de forma contundente. Isso porque o falante nativo do português (me referindo ao brasileiro) não se contenta em somente “pegar palavras emprestadas do inglês”, ele agora quer compor combinações de palavras que, antes, não eram utilizadas por nós. Não cabe a esse blogueiro julgar se o aludido ato está correto ou não, mas apenas fazer uma constatação dessa ocorrência e, por conseguinte, compartilhar as sua percepções com toda a comunidade.
Esse fenômeno é real e me remete ao fato de que, no Brasil, pessoas de uma dada região estão utilizando gírias características que antes ficavam restritas a outra região. Por exemplo, o radar de trânsito é chamado de pardal no Rio de Janeiro. Com o tempo, essa gíria ganhou a simpatia de brasileiros de outro estado – como Minas Gerais. O baiano sempre disse “frio da porra” e, hoje em dia, é comum ouvir brasileiros de outro estado fazendo o uso dessa gíria. Talvez estejamos diante do efeito “paisalização” ou “brasilização” (no bom sentido, claro). É evidente que se tratam de fenômenos distintos, mas cabe propor tal relação com o intuito de frisar como somos fortemente influenciados por tudo e por todos ao nosso redor.
Você conhece algum exemplo que ilustra, fidedignamente, a influência do Inglês no Português? Comente abaixo, a gente gosta muito de saber a opinião dos nossos leitores.
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