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A questão de saber se a personalidade de uma pessoa muda ao falar outra língua é fascinante e tem sido objeto de diversos estudos e discussões entre psicólogos, linguistas e estudiosos da comunicação intercultural. Existem evidências de que a língua que falamos pode influenciar não apenas nossa forma de comunicação, mas também a maneira como pensamos, sentimos e nos comportamos.
Estudos sugerem que a língua pode afetar aspectos da nossa personalidade devido às diferentes conotações culturais, valores e normas incorporadas em cada idioma. Por exemplo, uma pesquisa conduzida por Pavlenko (2006) indica que falantes bilíngues muitas vezes relatam sentir-se como “pessoas diferentes” quando mudam de uma língua para outra. Isso pode ser atribuído ao fato de que diferentes línguas carregam diferentes referências culturais, modos de expressão e até mesmo formas de pensar.
Um estudo realizado por Dewaele e Nakano (2013) mostrou que falantes bilíngues de inglês e japonês apresentaram diferenças em traços de personalidade como extroversão e abertura a novas experiências, dependendo da língua que estavam usando. Ao falar japonês, os participantes tendiam a ser mais reservados e formais, refletindo a cultura japonesa, enquanto ao falar inglês, mostravam-se mais extrovertidos e informais.
A teoria do relativismo linguístico, também conhecida como Hipótese Sapir-Whorf, sugere que a estrutura da língua influencia a forma como seus falantes percebem e interagem com o mundo. Embora essa teoria tenha sido amplamente debatida, ela oferece uma base para entender como a linguagem pode moldar nossos pensamentos e comportamentos. Por exemplo, falantes de línguas que distinguem claramente entre formas formais e informais de tratamento podem ser mais sensíveis a questões de hierarquia e respeito social.
Além de estudos acadêmicos, muitas pessoas bilíngues ou multilíngues relatam experiências pessoais que corroboram a ideia de mudança de personalidade. Por exemplo, alguém que é fluente em português e inglês pode sentir-se mais assertivo e direto ao falar inglês, devido à cultura mais individualista e expressiva dos países de língua inglesa, enquanto em português, pode adotar uma postura mais calorosa e coletiva, refletindo as normas sociais de países lusófonos.
A ideia de que nossa personalidade pode mudar ao falarmos outra língua é apoiada por diversos estudos e teorias. Isso não significa que nos tornamos pessoas completamente diferentes, mas que certos aspectos de nossa personalidade podem ser realçados ou atenuados dependendo da língua que estamos usando. Entender essa dinâmica pode nos ajudar a navegar melhor em contextos multiculturais e a apreciar a profundidade e a complexidade da nossa identidade linguística e cultural.
Referências:
Pavlenko, A. (2006). Bilingual selves. In A. Pavlenko (Ed.), Bilingual minds: Emotional experience, expression, and representation (pp. 1-33). Clevedon, UK: Multilingual Matters.
Dewaele, J.-M., & Nakano, S. (2013). Multilinguals’ perceptions of feeling different when switching languages. Journal of Multilingual and Multicultural Development, 34(2), 107-120.
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