A experiência de morar fora do país, isto é, do seu país, simplesmente não tem preço. Raramente vejo casos ou fico sabendo de experiências que fizeram as pessoas regredirem na esfera intelectual, emocional e todas as outras.
Em se tratando de morar fora do Brasil, eu, particularmente, não tenho nada a reclamar – minto! Há sempre uma coisinha ou outra que sentimos falta. Não sei porque, mas sempre me bate uma impressão de que, à despeito de todas as nossas reclamações sobre o Brasil e coisas erradas que vemos por aqui, somos um povo muito apegado a nossa terra e, principalmente, às pequenas coisinhas que só encontramos aqui.
Considerando todos os contatos que já tive com estrangeiros, ouso afirmar que não existe povo mais versátil, enigmático, diversificado, flexível, preparado emocional e racionalmente que o brasileiro. Podemos não ser um país de primeiro mundo, mas somos um país de primeiro povo e, principalmente, primeiro gosto.
Dada a frequência do uso da expressão homesickness, resolvi escrever um post resumindo coisas que brasileiros sentem falta ao sair do Brasil, me baseando em experiência própria e nos relatos de amigos, conhecidos e conhecidos dos conhecidos que já ouvi. Além é claro de inúmeras entrevistas, histórias e fatos sabidos à largo pelas pessoas. A palavra ‘sair’ aqui está sendo usada com o sentido de morar fora do Brasil.
Confira abaixo!
1. Clima dependendo do país que você for
Meu irmão é mais um que virou estatística. Após uma estadia na cidade de Glasgow na Escócia pelo programa Ciências sem Fronteiras, quando o questionei sobre o que ele menos gostou, hesitou inicialmente em mencionar algo, até que, como se soprassem eu seu ouvido disse: clima. Não importava o período do ano, o clima sempre fechado em Glasgow foi a sua única reclamação. Ou seja, ainda que você conheça brasileiros que frequentemente dizem coisas como” adoro o frio e detesto calor” (ou vice-versa), o clima ainda é um fator de peso que influencia o humor de muitos brasileiros – ainda que eles não percebam isso naturalmente.
2. Programas de TV
É verdade que às vezes ficamos irritados com o que os canais brasileiros passam na TV. Criticamos a qualidade (ou a falta dela) e não conseguímos entender porque alguns insistem em passar conteúdo puramente sensacionalista e pouco instrutivo e/ou educativo. Mesmo estando nos Estados Unidos e Argentina, por exemplo, é possível assistir aos programas da Globo News e outros mais. Ocorre que a forma como muitas informações são peneiradas através desses programas pelas redes de TV e, em alguns momentos, em horários diferentes dos quais você estava habituado a assistir no Brasil (alguns indisponíveis), pode se tornar motivo de irritação no médio-longo prazo. É impressionante como a experiência de não ter fácil acessibilidade a algo que antes você nem fazia questão pode ser tornar um incômodo para muitos brasileiros que vivem fora do Brasil. E, é claro, de maneira “imperceptível”. Vai arriscar perguntar a alguém que mora fora do Brasil se ela está com saudade do programa do Ratinho ou das novelas da Globo para ver a represália que te aguarda. Ligar a TV no domingo e não ouvir “ô louco meu” – que você nunca gostou – passa a fazer falta.
3. Restaurante Self-service
É óbvio que em alguns países é possível encontrar aquele local (ou ao menos semelhante) onde montamos um pratinho com arroz, feijão, bife e batata frita, mas exatamente nos moldes do que encontramos aqui não é tão comum assim. Pode ser que você raramente vá a um restaurante self-service no Brasil, mas quantos foram e são os casos de brasileiros cansados de comer coisas que raramente comeriam no Brasil, questionar um para o outro: porque não vamos a um self-service? Vários, é a minha reposta.
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4. Comida regional
Fazendo um gancho com o que falamos acima, a feijoada, por exemplo, pode não ser o prato favorito de muitos mineiros, apesar de ser um prato “regional”. Porém, quando questionados, muitos brasileiros que moram ou moraram fora do país, visitaram ao menos um restaurante brasileiro ou, alternativamente, preparam alguma comida típica da sua região enquanto fora do Brasil. Caruru, feijoada, pão de queijo, chimarrão, não importa. O paladar faz toda a diferença.
5. Seguir regras que antes você não tinha que seguir
Você estava acostumado a tomar uma cervejinha na praia ou andar pela rua com uma latinha de cerveja na mão enquanto saia de uma festa e ia para outra. Daí, ao chegar em Miami, por exemplo, descobre que isso não é possível e que esse ato pode dar brecha para a polícia te revistar ou iniciar um interrogatório. Em alguns países da África, como Guiné Equatorial, por exemplo, as leis podem ser ainda mais duras. Em algumas regiões há relatos de proibição de fotografias, toque de recolher e outras coisas parecidas. Medidas de segurança e/ou ordem? Vai saber.
6. Intimidade e invasão de privacidade
Por mais que você alegue não sou de tocar nas pessoas, conheço muita gente assim, mas esse não é o meu estilo. Tudo bem, porém se você não for assim, certamente tem algo em você que é característica clara do povo brasileiro, como gesticular bastante, fazer caras e bocas e se expressar como um ator/atriz mesmo que nunca tenha percebido ou achado que isso nunca fosse possível, já que – no seu conceito- você é muito tímido(a) ou fechado(a). O brasileiro, via de regra, é um ser mais despojado e tem o costume de tocar nas pessoas ainda que suavemente e mesmo que seja indivíduo o qual você não conhece. Quantos brasileiros tem o costume de, ao pedir uma informação a alguém na rua, simplesmente para chamar a atenção da pessoa, ao menos estica o braço em sua direção como se fosse tocá-la. Você deve estar se perguntando: eu sinto falta de tocar nas pessoas ou ser tocado(a)? Ambos!
7. Conversar e ouvir as pessoas conversarem de maneira espalhafatosa
A maioria dos brasileiros gesticula bastante ao chamar alguém que está relativamente longe. Veja no vídeo abaixo, um montão de características verossímeis do povo brasileiro. Não tenho dúvidas de que esse gingado todo (mesmo que no subconsciente) faça parte de coisinhas que brasileiros sentem falta ao sair do Brasil. O americano kevin Porter fez um vídeo genial sobre body language (linguagem corporal). Vale muito à pena assisti-lo. Dá play!
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